Na primeira parte deste artigo, comentei sobre a pintura intuitiva como uma prática pessoalmente transformadora e libertadora, que lhe permite desenvolver a atenção plena e conectar com a sua fonte criativa interior. Nesta segunda entrega, compartilharei com vocês sobre os dois bloqueios mais importantes que enfrentamos quando nos iniciamos nesta caminhada de criar arte desde a nossa intuição e como superá-los.
1) O medo da “tela branca”
Um dos bloqueios mais comuns para um estudante iniciante de pintura, em qualquer uma das suas formas, é colocar os primeiros traços na tela ou papel em branco. No caso da pintura intuitiva sucede também, e pode até ser mais intenso pois estamos expressando aspectos internos da nossa mente, abrindo-os e mostrando-os para o mundo fora. Estamos mostrando quem somos, o que estamos sentindo, o que temos dentro. Isso é muito poderoso.
O medo que experimentamos ao olharmos a tela branca bem na nossa frente se relaciona com várias coisas. Um, se relaciona com o sentimento de que, ao colocar o primeiro traço ou cor, ao mesmo tempo descartamos outras mil possibilidades, outros muitos caminhos por percorrer. Se relaciona com falta de confiança interna, com a lógica da cabeça trazendo perguntas (comparações, referencias, e assim por diante) que acabam fazendo você duvidar sobre o que você vai pintar. Por último, se relaciona com um medo de que o processo não tem volta atrás, de que quando colocamos uma cor ou forma não poderemos mudá-lo depois. Mais, não é bem assim.
Na pintura intuitiva, uma das coisas mais fascinantes é o poder transformador que ela lhe entrega durante o processo. Numa sessão de pintura intuitiva, você começa a pintura de um jeito e, aos poucos, você vai ir percebendo como ela vai se transformando, mudando, tomando formas diversas; ela pode mudar tanto que pode até parecer que você esta refazendo ela por completo novamente. Assim, o resultado final pode ser tão inesperado que você pode até se surpreender. Ou não.
Então, a primeira coisa a ter em mente ao iniciar uma pintura é que você tem essa liberdade de poder mudar de direção na hora que você quiser. Você está no comando, e o mais importante do processo é o processo mesmo, e não o resultado. Igual como acontece na vida. Com o tempo e com a prática, você pode ir refinando a suas técnicas e a sua identidade visual, conseguindo resultados mais consistentes e coesivos entre suas diversas pinturas, mas sempre mantendo a sua voz visual única e pessoal.
Tem varias dicas que você pode fazer na hora de iniciar uma pintura, para “cortar” esse bloqueio inicial. Uma pode ser simplesmente escrever palavras que representem os seus sentimentos ou estado mental, nomes de objetos, locais, situações, pessoas, etc., que você deseja trabalhar na pintura. Isto lhe permite dar o primeiro passo na tela e já ir colocando certas intenções na sua pintura. Também pode aplicar uma camada fina de pintura (diluída em água ou no solvente que esteja usando) cobrindo a tela toda, que será uma das tantas camadas de pintura de fundo que irá construindo a sua pintura. Depois essas palavras ou camadas previas de cores podem ser “apagadas” passando por cima novas camadas (translucidas ou não) de pintura; também pode deixar algumas áreas visíveis destas camadas anteriores, dependendo do que você quiser. Ter varias camadas de pintura agrega profundidade a sua pintura e lhe permite fazer efeitos muito interessantes.
Na pintura intuitiva você aprende como enfrentar e derrubar esses bloqueios de modo consciente, com base na autoconfiança e a prática. Também ajuda você a ser mais amável e compassivo(a) com você mesmo(a), a desenterrar as suas necessidades mais vitais e profundas, e aprender a viver desde um lugar mais empoderado.
2) De cara com o seu crítico interno
Geralmente, tendemos a ser mais severamente críticos com nós mesmos do que com os outros. Esse julgamento constante de nós mesmos e o que fazemos pode diminuir a nossa motivação, pode nos frustrar e limitar nossa criatividade por causa do medo de “não sermos bons o suficiente”. O antídoto para isso é aprender a domar o seu crítico interno, que nada mais é do que aprender a aceitar sem julgamento.
Esteja no momento presente, deixe fluir a sua criatividade interior, sem expectativas de qual irá ser o resultado, aceitando-o qualquer um que seja. O resultado deve ser desconhecido e inesperado, por isso se chama de pintura intuitiva. Uma vez sua pintura esteja concluída, você pode adicionar outros elementos, mas somente depois de ter realizado/vivenciado a experiência.
A pintura intuitiva oferece um caminho criativo e de liberdade pessoal. Os resultados não têm o propósito de serem julgados em modo algum, permitem que formas e figuras não planejadas possam surgir desde o inconsciente, e assim eles se convertem em um diário visual do seu estado mental e por tanto, uma fonte de autoconhecimento.
Em âmbitos gerais da vida, estes exercícios de aceitar sem julgamentos lhe ajudam a aprender a soltar, a desenvolver uma maior equanimidade e neutralidade frente aos acontecimentos. Isso lhe permitirá aceder a um estado de não-reação frente a eventos sérios ou dramas da vida: o ato consciente de pintar acalma a mente e lhe dá uma plataforma neutral e segura para expressar os seus sentimentos, especialmente quando está lutando com os altos e baixos da vida.
A atenção plena como base da solução
Na sociedade atual onde tudo parece ir a uma velocidade muito alta, onde realizamos múltiplas tarefas simultaneamente e estamos sujeitos a incontáveis estímulos de informação (e de desinformação), uma das qualidades da nossa mente que vamos perdendo aos poucos cada dia é o nosso (super-)poder da atenção plena (“mindfulness”).
A atenção plena se refere a conseguir focar a nossa mente em uma coisa só de cada vez, sem pensamentos errantes que nos distraiam do que estamos fazendo. Alcançamos este estado em momentos de contemplação (muito frequentemente na natureza, como por exemplo, quando observamos um magnifico pôr do sol), quando estamos no fluxo criativo (em que o tempo passa sem percebermos, e quase nem lembramos de termos fome, nem sede e nem cansaço) e quando estamos meditando. A atenção plena significa estar completamente no momento presente.
Quando isto ocorre, acontece a mágica: finalmente corpo e mente se reunificam e sentimos um grande estado de plenitude interior- que comumente chamamos de felicidade. Então, estar no momento presente é uma das melhores soluções para superar bloqueios criativos, esclarecer a mente, seu propósito e direção na vida, cultivar e adotar novos hábitos saudáveis, entre muitos outros benefícios.
Todos nós nos esforçamos por maior clareza, alinhamento, atenção plena e criatividade em nossas vidas. A meditação é uma ferramenta muito poderosa para alcançar esses objetivos. Se você estiver interessado em aprender a meditar e desenvolver um modo de vida mais pleno e consciente, recomendo muito o Programa de 42 Dias de Desenvolvimento Pessoal do Peace Revolution. A melhor maneira de iniciar qualquer sessão de pintura intuitiva é praticar meditação antes dela. Isso lhe dará um estado mais claro da mente, se irá reconectar com sua própria intuição e propósito, e lhe dará toneladas de inspiração!
Liberte-se.
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Arte da capa: “Resplandescent Buddha”, por Carolina Bertsch, 2019.