Sempre gostei de pintar. Lembro de pegar pela primeira vez nos pinceis e pintar numa tela em branco quando tinha apenas 11 anos. Se bem nunca estudei arte ou fiz um curso de pintura (eu estudei biologia), pintar sempre foi uma paixão à qual voltei sempre que precisei me expressar ou acalmar emocionalmente.
Em algum momento, há muitos anos, comecei a perceber a relação entre o meu SER e meu FAZER, especialmente quando pintava. Quando me sentia leve e relaxada comigo mesma e com a vida, os meus traços na tela fluíam naturalmente, sem bloqueios. Sentia que a criatividade brotava docemente dentro de min, e eu não sentia as horas passar, nem a fome, nem a sede…. Estava no fluxo criativo. Que delicia de momentos!
Mas isso era longe de acontecer todo dia. Muitas vezes que eu sentava a pintar, sentia que os barulhos dos meus pensamentos eram tais que bloqueavam a minha mente e as vezes nem conseguia decidir o que pintar ou como continuar. Dai, sempre ficava a pergunta na minha cabeça: ¿como é possível aceder a esses momentos? Tudo parecia depender de como tivesse sido meu dia ou minha semana… Parecia que dependia de circunstâncias externas, de algo alheio a min mesma. Sentia que eu não tinha muito controle sobre isso. Então… descobri a meditação.
Em 2015, quando comecei a praticar a meditação de uma maneira consistente através do Programa de Desenvolvimento pessoal de 42 dias do Peace Revolution, aos poucos senti como isso foi começando a mudar. Descobri que era possível sim aprender a conduzir a minha mente à um estado mais relaxado e cultivar uma paz interior mais estável e menos propensa a ser alterada por causas externas, fossem elas pessoas ou circunstâncias. E isso viu-se refletido na minha arte.
No ano de 2016, teve o sonho cumprido de participar no Terceiro Retiro de Meditação para Artistas na Tailândia, organizado por Peace Revolution. Foi uma experiência inesquecível e marcante! Fomos 26 participantes de 19 países diferentes do mundo todo, compartilhando durante duas semanas a nossa paixão em comum pela arte e aprendendo a nos reconectarmos com a nossa voz criativa única, interior, através da pratica da meditação.
Desde então, tenho descoberto um novo modo de viver, que tem permeado todas as áreas da minha vida. A minha relação com a pintura (e com a vida 🙂 ) mudou e iniciei um caminho baseado na intuição e na autoconfiança. Comecei a pintar me sentindo livre de medos e julgamentos internos.
E é sobre isso que desejo compartilhar com vocês. Nesta primeira parte do artigo, falarei sobre o que é a pintura intuitiva e como ela é uma pratica que qualquer pessoa pode realizar e receber os seus múltiplos benefícios. Também veremos como aprender a aceder ao fluxo criativo de maneira intencional e natural, através do desenvolvimento da nossa atenção plena e da pratica da meditação.
O que é a pintura intuitiva?
Ela é uma prática de desenvolvimento pessoal e de bem-estar, que ajuda a pessoa a despertar, expandir e se empoderar de si mesmo(a) através da conexão com a sua intuição, fluxo criativo e expressão espontânea.
Na arte intuitiva você cria arte usando a consciência interna centrada no coração e não depende da análise ou perguntas baseadas na lógica, razão ou intelecto. Nesse sentido, ela geralmente não é definida como uma arte no sentido tradicional, pois não usa técnicas analíticas clássicas para aprender a pintar (perspectiva, geometria, anatomia ou outras).
A pintura intuitiva oferece uma oportunidade para explorar o Ser interno através do processo num ambiente seguro e livre de criticas, “sintonizando” com a sua criatividade única, com suas emoções e ao que “se sente bem”. Ao mesmo tempo, você solta o apego aos significados, ao controle, à perícia ou ao produto final. Imagine agora a imagem de uma criança pegando num lápis de cor vermelha sem hesitação, em vez de um lápis de cor azul, na hora de desenhar. Não existe uma logica por trás dessa decisão, certo? Somente um espaço interno que convida a confiar e escolher aquilo que a voz-guia interiorfala.
Esta prática traz muitos benefícios, dentre eles:
– ajuda a desenvolver a sua intuição;
– balancear os seus estados mentais e aumentar a sua consciência e atenção plena pessoal e espiritual;
– explorar o seu inconsciente, criando um espaço de auto cura à sofrimentos emocionais;
– integrar elementos perdidos do ser;
– melhorar a sua percepção da vida;
– descobrir a sua voz visual única; e,
– ganhar acesso a uma criatividade interior sem limites.
A pintura intuitiva é pessoalmente transformadora, pois ajuda as pessoas a serem autênticas versões de si mesmas.
De onde vêm a criatividade?
Muitas pessoas acreditam que ser criativo é coisa de “artistas”. Mas, a criatividade não é outra coisa se não a capacidade de conectar no nosso cérebro varias ideias ou informações diferentes para produzir uma ideia totalmente nova e inédita. A criatividade é a nossa capacidade inata de achar soluções as diversas situações que vão aparecendo na vida.
Todos somos seres criativos: nascemos sendo criativos, mas à medida que vamos ficando adultos, se não treinarmos essa capacidade, sentimos que vamos esquecendo ou perdendo ela. A criatividade, como qualquer outro talento, requere prática. Quanto mais a exercitarmos, o nosso cérebro irá criando mais conexões neurais e se acostumando a pensar “fora da caixa”, de modo original e autêntico. Agora, preste atenção. A criatividade nasce de um lugar dentro de nós: ela vem da nossa intuição.
Muito tem sido escrito sobre a intuição, as suas origens incertas, e porque deveríamos escutá-la mais do que a razão e a lógica. Sem duvida, a intuição é um espaço de confiança que abre portas para a imaginação que nunca teria sido descoberta unicamente pela razão. Albert Einstein falava que “A imaginação é mais importante que o conhecimento” e que “O intelecto tem pouco a fazer no caminho das descobertas. Elas surgem de um salto da consciência, que pode chamar de intuição ou como deseje, e a solução vem até você, sem saber nem como nem porquê”.
Desafortunadamente, facilmente nos volvemos muito ocupados e afogamos a voz da guia intuitiva que todos temos naturalmente dentro de nós. Acredito ser uma tarefa existencial reconectar com ela. Confie na sua intuição. Você não precisa explicar nem justificar os seus sentimentos a ninguém, somente confie na sua própria guia interna, ela conhece você melhor que todos. Ela trará de volta a criatividade na sua vida.
Mas… eu não sei pintar!
Se você nunca se aventurou a pintar antes, provavelmente neste momento você tenha a seguinte pergunta na sua cabeça: ¿realmente eu posso fazer isso? A resposta é:
Sim, você pode!
Lembre-se de quando você era criança: você pegava nos pinceis, se deleitava pintando durante horas e provavelmente nunca se perguntou se você era um(a) artista! Na verdade, isso nem interessava você, pois você estava no fluxo criativo, curtindo a experiência, totalmente imerso ou imersa no momento presente.
Do mesmo modo, na pintura intuitiva, você se expressa como se fosse uma criança: de forma enérgica e inocente, mas ao mesmo tempo honestamente e com a profundidade de toda uma vida de experiências. Não se trata sobre criar “algo” e sim de soltar possíveis bloqueios que possam existir na sua criatividade natural. O propósito é abrir os canais para uma expressão criativa autêntica.
A pintura intuitiva pede para você se mostrar abertamente e com coragem, requerendo apenas que você brinque com as cores e pincéis sobre a tela ou papel. Uma vez lá, você vai lembrar como se faz… e vai entender aos poucos o porquê. Você vai saborear o desdobramento dos espaços internos. Você vai descobrir a “pintura lúcida” – e vai sentir como se você estivesse pintando um sonho que você já teve antes. O seu Ser criativo vai se acender. Você vai achar paz e gratidão. Você vai libertar a sua voz visual única e reconectar com o seu Ser radiante e criativo.
Para aqueles novos nesta forma de pintar, convido vocês para ir além do que lhes foi falado sobre o propósito e valor da arte; lhes convido a se aventurar abrindo uma nova porta para você mesmo(a) explorar a sua paisagem interna através das cores e das formas. Lembre-se: Não há erros, unicamente o processo de estar no agora e a consciência de olhar neutralmente os assuntos da sua vida enquanto você pinta. A final, imagine que é uma meditação ativa.
Conectando com a sua voz interior
Definir a ideia de uma voz interior cheia de sabedoria é uma tarefa elusiva. No entanto, é “algo” que conhecemos sem razão, que em si mesmo se sente como um paradoxo, mas que nos permite saber quando algo se sente certo ou não para nos mesmos. É como se fosse uma bússola interna que nos encoraja a confiar e deixar que os nossos sentimentos sejam a nossa guia. Um dos modos mais simples de entender a intuição é seguir o que nos faz felizes.
Todos estamos conectados por esse “algo” incrível que chamamos a intuição. Podemos experimentar como preserva vidas, evita que soframos demais, e nos guia na direção certa no momento certo. No entanto, quando “escutamos” esses chamados de dentro de nos, muitas as vezes ignoramos esta sabedoria nos justificando com frases tais como: “Estou inventando tudo isso”, “Isso não pode ser certo” ou “O que os outros irão pensar disso? “. Outras vezes, simplesmente estamos tão distraídos e ocupados no barulho da nossa vida cotidiana, que não conseguimos escutar estes chamados. Desse modo, vamos pulando de uma dúvida a outra, criando dramas, complicações e confusões desnecessárias.
Isto, por sua vez, adiciona mais poluição /contaminação nas nossas mentes, aumentado a nossa inseguridade e indecisões. Neste ponto, o único modo de clarificar a nossa visão é ir para dentro. Ir na nossa Fonte interior de calma, fazendo uma pausa na nossa correria mental, e permitindo com que todas as impurezas se decantem. Somente assim podemos “ver” o que temos dentro de nos mesmo(a)s e podemos escutar novamente a nossa voz guia interior.
A prática da meditação nos ajuda a fazer essa reconexão, permitindo-nos purificar a nossa mente e abrir as maravilhosas portas do autoconhecimento. Assim o processo de criação se volve mais fluido, honesto, claro, espontâneo e portanto, cheio de significados pessoais. Numa sessão de arte intuitiva, você confia nos seus instintos, escuta essa voz interna que lhe sussurra, traz ela para fora e a coloca na tela ou papel. E, assim, um novo diálogo é aberto. Uma estrada de duas vias é criada de modo que a informação possa fluir livre e facilmente. Para isso você não precisa ter nenhuma qualidade psíquica ou bagagem artística.
Na segunda parte deste artigo, compartilharei com vocês sobre os dois bloqueios mais comuns que enfrentamos quando começamos a pintar: o medo à “tela” branca (=algo novo) e como lidar com o seu maior critico: você mesmo(a). Até então!
Se quiser conhecer sobre a minha arte, convido você a visitar minha pagina web neste link.
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Imagem da capa: “Onde vive o amor, não tem espaço para o medo“. 2019. Por Carolina Bertsch.